Não é segredo para ninguém que as apostas movimentam caminhões de dinheiro. Basta olhar para Las Vegas ou qualquer cidade que tenha um cassino.

No entanto, é impossível de ignorar o boom que as apostas esportivas tiveram nos últimos anos — e o Brasil é prova disso.

Por aqui, o mercado já movimenta R$ 45 bilhões e, em 2022, superamos o Reino Unido, nos tornando o país com mais acessos a plataformas de apostas online.

Em 2023, 18 dos 20 times da Série A do Brasileirão têm algum site de apostas como patrocinador master — juntos, o investimento anual dessas empresas beira a casa dos R$ 550 milhões.

Nos EUA, o crescimento foi ainda maior e, no ano passado, os americanos depositaram quase US$ 110 bilhões em apostas esportivas legais, acima dos US$ 93 bilhões de 2022.

O “romance” entre ESPN e Sports Betting

O crescimento do segmento nos últimos 3 anos — que teve start após a Suprema Corte americana derrubar a proibição federal de apostas esportivas em 2018 — passou a chamar a atenção da Disney, dona da ESPN.

Para os curiosos, esse vídeo mostra, em poucos minutos, a história das apostas esportivas nos EUA.

Mudança de postura interessante. Nove meses após a decisão judicial, o CEO Bob Iger negou basicamente a possibilidade de que uma “marca família” como a Disney realizasse apostas reais.

“Não vejo a The Walt Disney Company, certamente no curto prazo, se envolvendo no negócio de jogos de azar, ou, facilitando esses jogos de alguma forma”, comentou Iger.

Maaass… O estagiário foi mais afundo nas pesquisas e viu que essa mudança de visão não foi tão inesperada quanto muitos imaginam.

🛋 Senta que lá vem a história

Em 2014, a concorrente Fox lançou o canal Fox Sports 1, que, à época, foi considerado como uma potencial ameaça à ESPN.

Entre várias reuniões internas discutindo maneiras preventivas para combater essa possível ameaça, o tema “apostas esportivas” foi sugerido — e gerou ceticismo entre os envolvidos.

David Bearman, ex-editor geral de sports betting da ESPN, comenta que a sugestão não foi negada e que ele passou a produzir conteúdos sobre o tema.

Com o passar dos anos, o volume de produção foi subindo e, antes da decisão de 2018, a ESPN já havia lançado:

• ESPN Chalk, vertical sobre apostas esportivas dentro do site da empresa;
• Podcast “Behind the Bets with Doug Kezirian”
• “Bad Beats”, um segmento recorrente sobre sports betting na edição da meia-noite do SportsCenter — um jornal da ESPN.

Já em 2019, enquanto Iger tentava distanciar a Disney dos jogos de azar, a ESPN seguia aumentando o número de programas sobre o assunto.

Era uma questão de tempo até a empresa do Mickey deixar a ESPN entrar com tudo no segmento… E esse momento chegou em agosto de 2023 com a seguinte chamada:

“ESPN entra em apostas esportivas em acordo de US$ 2 bilhões”

A parceira em questão foi a operadora de cassinos Penn Entertainment e o contrato foi estipulado da seguinte maneira:

• US$ 1,5 bilhão pagos à ESPN ao longo de 10 anos;
• US$ 500 milhões em opções para comprar ações da Penn.

Quando perguntado sobre a estratégia por trás do movimento, Jimmy Pitaro, chefe da ESPN, declarou:

"Nosso foco principal é sempre servir os fãs de esportes e sabemos que eles desejam conteúdo de apostas e a capacidade de fazer apostas com menos atrito em nossos produtos”

No entanto, sabe-se que a ESPN tem buscado novas fontes de receita conforme seus clientes cancelam o serviço tradicional de TV a cabo.

Do lado da Penn, a empresa pôde renomear sua “casa de apostas” para ESPN Bet. Isso sem falar que colaborar com a maior marca de mídia esportiva do mundo reduziria drasticamente seu custo de aquisição de clientes.

Desafios e desempenho atual

O principal obstáculo dessa collab é que o mercado americano de apostas esportivas é dominado por FanDuel e DraftKings — juntas, as empresas possuem 73% de market share.

• Outros players como BetMGM e Caesars, possuem um valor combinado de quase 16%.

Maaas… Quando a ESPN Bet “abriu suas portas” oficialmente em novembro, projeções passaram a circular que a nova “casa de apostas” poderia atingir 20% de participação de mercado até 2027. Isso que é confiança. risos.

O começou foi realmente bom. O app da ESPN Bet foi o mais baixado na App Store da Apple por 100 horas seguidas e teve 1,1 milhão de downloads em sua primeira semana.

Só que, nove meses se passaram desde que o acordo foi inicialmente anunciado, e os primeiros resultados oficiais não foram dos mais positivos.

Ao divulgar seus resultados trimestrais, a Penn Entertainment viu a receita de sua vertical online — que inclui a ESPN — ficar quase US$ 30 milhões em receita abaixo do esperado.

A cifra contribuiu para que as ações da Penn caíssem 15% — teve até um dos apresentadores da emissora criticando esses resultados ao vivo.

This is Pat McAfee laughing at ESPN Bet, saying "ESPN Bet's got a lot of room to grow," and then giving ESPN Bet a pep talk.

"We are on ESPN and obviously we're part of ESPN so we would like ESPN stuff to succeed."

Download the app today! pic.twitter.com/WayjxDUnfu

— Awful Announcing (@awfulannouncing) May 2, 2024

Looking forward

A verdade é que ainda é muito cedo para determinar se ESPN também vai conseguir dominar ou não o mercado de apostas esportivas.

Por ora, sabe-se que a Penn espera anunciar novas integrações com os produtos digitais da ESPN que podem levar a uma maior retenção, participação e gastos por usuário.

Segundo o CEO da Penn, Jay Snowden, o foco será “aprimorar nossas ofertas de produtos” visando a próxima temporada de futebol americano — que começa em agosto.

Se quiser aprofundar...

• Uma matéria sobre o anúncio da ESPN Bet
• Uma matéria sobre o mercado de apostas esportivas no Brasil
• Uma matéria mostrando o impacto das bets como patrocinadoras de times de futebol