Entre os dias 25 e 29 de julho, a Netflix viu sua média diária de cancelamentos de assinatura nos EUA quase triplicar em relação à taxa das duas semanas anteriores.

A princípio, especulou-se que isso poderia ser consequência da decisão da empresa de eliminar gradualmente seu plano mais barato e sem publicidade. 

• Isso porque os clientes americanos da gigante do streaming cancelaram sua assinatura a uma taxa mais elevada em julho (2,8%) do que em qualquer mês desde fevereiro.

Mas a real causa foi outra. No dia 22/07, o cofundador e chairman, Reed Hastings, anunciou seu apoio à candidata do partido democrata, Kamala Harris. No dia seguinte, ainda anunciou doação de US$ 7M à campanha dela.

Após essa revelação, apoiadores do Trump passaram a fazer campanha para as pessoas abandonarem o serviço, postando fotos com a hashtag #CancelNetflix. 

O resultado: Em 26 de julho, três dias depois que a doação de Hasting se tornou pública, a Netflix teve seu pior dia de cancelamentos em 2024.

Por que isso importa?

Não é de hoje que empresas de entretenimento — e de outras indústrias — enfrentam uma reação negativa após seus executivos de alto calão tomarem uma posição sobre questões políticas.

Um dos casos mais recentes foi o da Disney, que travou um “embate” de dois anos com o governador da Flórida, Ron DeSantis, depois que a empresa criticou uma lei do estado que restringe a discussão sobre orientação sexual e identidade de gênero em escolas. 

Acontece que, por mais que Hastings seja um apoiador de longa data do Partido Democrata, “ele não falava tão abertamente sobre as eleições até mais recentemente”, segundo a Bloomberg.

• De fato, ele foi um dos executivos que vocalizou seu desejo para que Joe Biden deixasse a corrida presidencial.

A questão é que a Netflix sempre tentou manter as doações e as preferências políticas de seus executivos separadas de seus negócios, até porque a empresa produz e oferece conteúdos diversos e para todo tipo de pessoa.

No fim das contas, o preço de expor suas opiniões enquanto nome à frente de uma empresa de mídia acaba deixando a Netflix suscetível a qualquer percepção de que a empresa é tendenciosa, ainda mais em tempos pré-eleição.

O futuro. Após 29/07, os cancelamentos diários voltaram aos níveis normais e, ao que parece, permaneceram estáveis. Agora é esperar para ver o real impacto disso nos resultados financeiros do 3T, que serão divulgados em meados deste mês.